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Ayra Stark brilha em exigente allowance em Keeneland e se despede de Ignacio Correas

  • Foto do escritor: Lineage Bloodstock
    Lineage Bloodstock
  • 21 de out.
  • 7 min de leitura

A alazã Ayra Stark (Cosmic Trigger) voltou a elevar o prestígio do turf argentino ao conquistar uma vitória contundente em uma prova allowance de US$ 130.000 em Keeneland, Lexington, Kentucky, EUA. Seu triunfo por 4¼ corpos de vantagem sobre Poppy The Princess (Cairo Prince) não só confirmou sua total adaptação às pistas de grama norte-americanas, como também prolongou o brilhante legado de seu treinador, Ignacio Correas IV, que alcançou com esta corrida sua 301ª vitória nos Estados Unidos, mais de duas décadas após ter se estabelecido no país.


A história de Ayra Stark é a de uma potranca que, mesmo sem vir de um pedigree globalmente célebre, atravessou fronteiras e superfícies para alcançar o sucesso. Em sua terra natal, Argentina, a filha do garanhão local Cosmic Trigger – reprodutor de notável êxito doméstico – venceu 4 de suas 7 atuações, todas na pista de areia do Hipódromo Argentino de Palermo. Entre essas vitórias, destaca-se o prestigioso Ramón Biaus (G2), onde venceu com seis corpos de vantagem, superando as melhores éguas da areia. Desde o início, já demonstrava um forte espírito competitivo: venceu em sua estreia, foi segunda colocada em um G1 em sua terceira corrida, e terminou quarta em duas provas de G2 no circuito seletivo argentino, antes de encerrar essa fase com duas vitórias consecutivas em allowances no Palermo. Era, sem dúvida, uma potranca com projeção internacional.

Ayra Stark (Cosmic Trigger) vence em allowance em Keeneland.
Ayra Stark (Cosmic Trigger) vence em allowance em Keeneland.

O entorno de Ayra Stark (Cosmic Trigger) decidiu vendê-la para os Estados Unidos, ao Haymarket Farm, após a vitória no Grupo 2. Com paciência e dedicação, Ignacio Correas conseguiu adaptar a alazã e encontrou no gramado norte-americano o cenário ideal para sua maturação. Lá, a égua se transformou em uma corredora muito mais ágil, com uma reta final que se ajusta perfeitamente aos ritmos mais táticos das corridas do norte. Em Keeneland, enfrentando um lote de outras seis éguas de três e quatro anos, Ayra Stark voltou a se mostrar como uma competidora séria e confiável.


A vitória de Ayra Stark teve um significado especial, pois marcou a reta final da carreira profissional de Ignacio Correas IV, um homem que deixou uma marca indelével na América do Norte, representando o turf sul-americano desde 2001. Quando se estabeleceu nos Estados Unidos à frente de sua própria operação, a IC Racing, Correas construiu uma reputação baseada na seriedade e em um talento extraordinário para treinar fêmeas. Não é coincidência que a maior parte de suas campeãs tenham sido éguas: Dona Bruja (Storm Embrujado), Blue Prize (Pure Prize), Didia (Orpen), Le Da Vida (Gemologist), Nanda Dea (Fortify), Nanabush (Il Campione) e agora Ayra Stark (Cosmic Trigger) formam uma constelação de nomes que contam a história de um estilo de treinamento e de uma filosofia.


Na Argentina, Correas sempre foi um nome respeitado, especialmente entre os grandes haras. Treinou para El Turf, Abolengo e para o próprio haras de sua família, Las Ortigas, todos estabelecimentos com forte tradição na criação e na seleção de éguas para reprodução. Seu método, baseado em planejamento de longo prazo, fez com que se tornasse o treinador preferido de criadores que desejavam garantir uma campanha sólida para suas fêmeas antes de encaminhá-las à reprodução.


Com a vitória de Ayra Stark (Cosmic Trigger), Correas começa a se despedir das pistas, e nos Estados Unidos a notícia de sua saída vem sendo recebida com carinho e respeito. Após a Breeders’ Cup, ele retornará à sua terra natal, a Argentina, onde o aguardam sua família, sua companheira Marina e seus cachorros, que já iniciaram a viagem de volta semanas atrás. Seu retorno marcará o encerramento de um ciclo iniciado há mais de duas décadas, coroado por uma série de conquistas que consolidaram o prestígio do turf argentino no cenário mais competitivo do mundo.


Nos últimos anos, Ignacio Correas se tornou uma espécie de embaixador involuntário do talento sul-americano. Sua fórmula parece ter encontrado um padrão eficaz: importar éguas com campanhas sólidas no hemisfério sul, oferecer-lhes tempo para aclimatação, e então introduzi-las gradualmente às corridas norte-americanas. O método tem funcionado com precisão quase matemática.

Ignacio Correas IV após vencer o Spinster Stakes (G1) com Blue Prize (Pure Prize) em 2018
Ignacio Correas IV após vencer o Spinster Stakes (G1) com Blue Prize (Pure Prize) em 2018

Primeiro foi Blue Prize (Pure Prize), a inesquecível égua argentina que venceu a Breeders’ Cup Distaff (G1) em 2019. Depois vieram Didia (Orpen), consagrada múltipla vencedora graduada, e mais tarde Le Da Vida (Gemologist), Nanda Dea (Fortify), Nanabush (Il Campione) e agora Ayra Stark (Cosmic Trigger) – todas importadas do sul com campanhas destacadas em seus países de origem. A linha é clara: as égua sul-americanas, especialmente as argentinas, possuem fundo, resistência e uma base genética sólida, o que lhes permite competir em alto nível nas exigentes pistas norte-americanas, uma vez adaptadas ao ritmo e ao terreno.


Correas soube traduzir esse potencial genético em resultados. Seu manejo fino no treinamento — com ênfase na recuperação, adaptação e paciência — contrasta com a velocidade com que muitos programas nos Estados Unidos exigem resultados. Ayra Stark (Cosmic Trigger) se apresentou como o epítome dessa filosofia: calma na espera, certeira no ataque, e com um físico pleno que respondeu sem exigências ao manejo suave de José Luis Ortiz.


A corrida, disputada sobre uma milha e meia (2400 metros) em pista de grama firme, reuniu um lote de sete fêmeas com bom perfil regional. Desde a largada, Statement Made (Always Dreaming) assumiu a liderança, marcando parciais regulares de 25 segundos a cada dois furlongs (800 metros), enquanto Ayra Stark (Cosmic Trigger), sob a condução de José Luis Ortiz, seguia em segundo, cerca de dois corpos atrás da ponteira. Logo atrás, Poppy The Princess (Cairo Prince) vinha na expectativa.


Na curva final, Ortiz começou a estimular suavemente a castanha, que respondeu com uma passada poderosa. Enquanto Statement Made relutava em ceder, Ayra Stark emparelhou com facilidade e, ao entrar na reta, tomou a dianteira com decisão. Nos últimos 200 metros, Ortiz apenas a tocou uma vez com a mão esquerda, a diferença se ampliou para 4¼ corpos, e ele a acompanhou até o disco. Poppy The Princess (Cairo Prince) completou uma boa atuação, chegando em segundo. O tempo final de 2:31.23 foi sólido para a categoria, confirmando que Ayra Stark não apenas venceu — ela dominou.


O pai da vencedora, Cosmic Trigger, é uma joia genética do turf argentino. Filho de Lizard Island (por Danehill Dancer), é irmão materno do lendário Candy Ride (Ride the Rails), um dos reprodutores mais influentes exportados do Hemisfério Sul nas últimas décadas. Assim como Candy Ride, Cosmic Trigger nasceu e foi criado no histórico Haras Abolengo, da família Menditeguy, onde ambos compartilharam o mesmo útero — o da célebre Candy Girl (Candy Stripes).


A campanha de Cosmic Trigger foi breve, porém brilhante, invicto em suas únicas duas apresentações na milha de Palermo. Uma lesão precoce interrompeu sua carreira nas pistas, mas seu destino como garanhão logo se confirmou. Desde 2016, cobre no mesmo haras onde nasceu seu célebre irmão, e os resultados o respaldam: de 287 filhos que correram, 175 venceram, um impressionante índice de 61% de vitórias. Além disso, já produziu seis vencedores de G1, número que, para um reprodutor nacional, o coloca entre os garanhões mais produtivos da região.


O cruzamento entre Cosmic Trigger e filhas de Exchange Rate (Danzig) tem se mostrado especialmente eficaz: de seis produtos registrados, cinco foram vencedores, incluindo Ayra Stark, que alcançou nível clássico e graduado. A combinação gera produtos velozes, com passada longa e temperamento competitivo, características claramente expressas na égua treinada por Correas.


A família materna de Ayra Stark também ajuda a explicar sua qualidade. Sua terceira mãe, Dama Imperial (Mariache), foi uma velocista que defendeu as cores do Haras Vacación, vencendo cinco corridas, incluindo o Lotería Nacional (G3) em 1994, triunfo que a consagrou como uma das melhores éguas de sua geração e a projetou como matriz. Dessa linha descendem éguas como Data (Roy), exportada ao Japão, e a ramificação que, após várias gerações, deu origem a Ayra Stark (Cosmic Trigger), reafirmando a força do pedigree materno.


Essa família, cuidadosamente cultivada por Vacación, carrega em seu DNA o fundo argentino através de Mariache (Dancing Moss), elemento que a genética local preservou com habilidade ao cruzá-lo com linhas norte-americanas. Não é por acaso que as filhas de Cosmic Trigger, com mães dessa procedência, se destaquem por sua regularidade. Ayra Stark é, por enquanto, a mais ilustre de uma descendência que promete crescer ainda mais nos próximos anos.


O cruzamento entre Cosmic Trigger e filhas de Exchange Rate virou objeto de estudo genético. Estatisticamente, de seis produtos registrados, cinco venceram, sendo Ayra Stark a única a conquistar um grau de Grupo. O sucesso desse nick reside na compatibilidade genética e na repetição de Danzig (Northern Dancer) 3Dx5S, que contribui com stamina. Em Ayra Stark, essa combinação é evidente: uma égua de corpo longo, boa altura, alternando superfícies e mantendo ritmo forte até o fim, qualidade indispensável nas provas exigentes dos Estados Unidos.


Keeneland, com sua atmosfera repleta de história, é um dos palcos onde se forjam os nomes que depois brilham nos grandes hipódromos da costa leste e no circuito da Breeders’ Cup. A bolsa de 130.000 dólares para um allowance dessa categoria não é um detalhe menor — atrai éguas em transição entre as divisões menores e os stakes, o que eleva o nível da disputa. Muito provavelmente, o próximo destino de Ayra Stark será um Grupo 2 ou 3, porém agora sob outro treinador.


A vitória ocorreu sob a condução de José Luis Ortiz, um dos jóqueis mais regulares e taticamente inteligentes dos Estados Unidos. Conhecedor do estilo sul-americano, Ortiz guiou Ayra Stark com o equilíbrio ideal entre paciência e decisão. O resultado foi um triunfo sem falhas, que abre a porta para vê-la em stakes de maior importância — talvez ainda antes do final do ano.


O feito de Ayra Stark se inscreve em duas narrativas simultâneas: a despedida de Ignacio Correas e a projeção internacional do sangue de Cosmic Trigger. Ambos representam o mesmo princípio — a capacidade do turf argentino de gerar qualidade exportável. Correas, como outros grandes treinadores do sul, soube interpretar o ritmo de cada animal e traduzir isso em resultados em um sistema competitivo e complexo como o norte-americano. Sua aposentadoria, prevista para novembro de 2025, após a Breeders’ Cup, encerra uma era em que a bandeira argentina foi erguida bem alto nas grandes pistas do mundo.


Ayra Stark (Cosmic Trigger), por sua vez, encarna a promessa de continuidade: uma égua nascida e criada na Argentina, filha de garanhão nacional, descendente de uma família consolidada, e capaz de vencer com autoridade em Keeneland, no coração do bluegrass. Sua vitória é mais que uma estatística — é um reconhecimento ao trabalho conjunto de criadores, treinadores e profissionais que, desde o Hemisfério Sul, continuam alimentando o coração de uma indústria global.


A vitória de Ayra Stark em Keeneland é muito mais do que um resultado no programa oficial. É o testemunho de uma trajetória bem construída, de uma visão genética acertada, e de um trabalho meticuloso. É também mais um elo na corrente que liga Palermo a Keeneland, os haras argentinos aos campos de Kentucky, e os criadores apaixonados aos profissionais que se atrevem a cruzar fronteiras.

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