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Obastacle bateu um recorde em sua estreia em Maroñas

  • Foto do escritor: Lineage Bloodstock
    Lineage Bloodstock
  • 16 de set.
  • 7 min de leitura

O Clásico Criadores Nacionales (G3) de Maroñas costuma ser o primeiro grande termômetro da geração clássica uruguaia, onde os potros que não alinharam na Polla de Potrillos se enfrentam por uma possível vaga no Jockey Club (G3), segunda joia da Tríplice Coroa uruguaia. No entanto, a edição de 2025 virou algo mais do que isso: desta vez foi o cenário de um aparecimento deslumbrante. Obastacle (Hofburg), um potro brasileiro criado pelo Santa María de Araras, Bagé, Rio Grande do Sul, e preparado por Ivo Valter “Coco” Pereira para as cores do Sr. Ricardo Felizzola, o Stud Duplo Ouro, saltou para a areia montevideana sem uma corrida prévia de fundo e destroçou o cronômetro.

Obstacle (Hofburg) galopando velozmente nos metros finais.
Obstacle (Hofburg) galopando velozmente nos metros finais.

Havia estreado em 3º, com alguns contratempos causados por sua imaturidade e inexperiência, em fevereiro, na seletiva da Copa Precocidade e Velocidade da ABCPCC, nos 1.000 metros, e em março ficou em sexto na final, descontando no final, sua última atuação. Após seis meses de pausa, reapareceu em um grupo selecionado para subir de maneira inusitada de 1.000 para 1.800 metros. Longe de acusar a inexperiência, o filho de Hofburg (Tapit) saiu correndo com ímpeto, suportou um toque na abertura dos partidores e lançou-se à perseguição do favorito Namaguederaz (Algorithms). Na reta oposta tomou a ponta e, na curva, começou a escapar. A 300 metros do disco sua vantagem era de sete corpos e meio e, apesar da distância, não parou de correr. Parou o relógio em 1:46.18, pulverizando o recorde que desde 2006 pertencia a Potri Flash, de 1:46.50, melhorando em 32 centésimos a marca anterior. Abriu 7 ½ corpos para o segundo, Ultimate Best (Synchrony), que selou a dobradinha dos garanhões filhos de Tapit, e deixou em terceiro o amplo favorito Namaguederaz, que cansou após tentar seguir o vencedor.


Para além do tempo final, os parciais que marcou colocam em contexto a magnitude da façanha. Após ser tocado na largada, o alazão de Felizzola, preparado pela equipe de Ivo Pereira, se acomodou e passou os 400 metros em vertiginosos 21’’96, depois os 800 em 44’’42, e cobriu os 1.200 em 1’07’’84: dez centésimos mais rápido que o recorde de Gran Taffeta (Gran Normand) para essa distância, mas ainda com 600 metros de corrida pela frente. Nos 1.600, seu parcial foi de 1’33’’30, apenas três centésimos a menos que o recorde de Brujo de Olleros (Wild Event), obtido pelo mesmo binômio brasileiro de jóquei e treinador. A chave foi seu arremate: o último furlong correu em 12’’88, deixando claro que ainda tinha reservas ao cruzar o disco. Para seu piloto, Everton Rodrigues, foi um passeio perfeito; para seu capataz, Pablo Duarte, a estreia dos sonhos. Com apenas três saídas na vida, Obastacle já se converteu em um dos cavalos mais rápidos da história de Maroñas.


O perfil genético de Obastacle ajuda a explicar por que sua ascensão rápida não deve ser considerada casual. É filho de Hofburg, um alazão filho do múltiplo campeão norte-americano Tapit (Pulpit) e de Soothing Touch, por Touch Gold (Deputy Minister). Hofburg foi competidor destacado nos Estados Unidos, 2º no Belmont Stakes (G1) e 3º no Florida Derby (G1). Além disso, pertence à estirpe da família {2-d} de Coup de Folie (Halo), onde aparecem figuras como Machiavellian, Coup de Génie, todos provenientes da matriarca Natalma (Native Dancer), mãe de Northern Dancer (Nearctic).


Esse ramo materno, famoso por sua capacidade corredora, aporta fundo e consistência. A aposta de Julio Bozano, proprietário do Haras Santa María de Araras, de trazer Hofburg para sua cocheira de garanhões no Brasil mostra-se acertada; em sua primeira geração produziu Vitruvian, ganhador de G1 na Gávea, o G3W e exportado para Dubai Nam Phrik, a múltipla colocada de G1 Niver Ball, o clássico New Future e o talentoso No Bien Ni Mal, que fez duas boas apresentações em Maroñas e depois venceu em Saratoga. A tendência indica que os filhos de Hofburg rendem especialmente bem na areia, como provam No Bien Ni Mal, Nam Phrik, New Future, o potro da geração atual Óbvio e agora Obastacle. Mas não deixam de ser competitivos no gramado, como demonstram Vitruvian, Niver Ball, Navy Of War, Osten ou Non Costa Caro em Maroñas.


O pedigree de Obstacle apresenta um Genetic Strength Value (GSV) de 70,29, indicador quantitativo desenvolvido pelo pesquisador francês François Bouquet para medir a potência genética com base na densidade de chefes de raça dentro das cinco primeiras gerações. Um GSV em torno de 70 implica stamina superior à média.


A chave genética está em sua terceira mãe, Ex Facto, por Known Fact (In Reality), e Premier Princess, por Exclusive Native (Raise A Native). Essa égua americana, comprada por U$S 37.000 nos leilões de Keeneland em 1991, venceu 2 corridas em 13 saídas e acumulou U$S 42.600 nas pistas, mas seu verdadeiro valor emergiu na reprodução. Ex Facto pertence à família {8-h} e é filha de Known Fact, cavalo campeão milheiro na Europa, propriedade da Juddmonte; sua mãe é Premier Princess, por sua vez filha do campeão Exclusive Native, pai do tríplice coroado Affirmed.


Come And See, mãe de Obstacle, é por Elusive Quality (Gone West), garanhão da Darley/Godolphin que viajou ao Brasil em shuttle em 2009 e 2010, uma daquelas intervenções que enriqueceram o “elevage” brasileiro. Essa égua apresenta um interessante Rasmussen Factor de 4Sx4D na reine-de-course Tamerett (Tim Tam). Dela descendem Tentam (Intentionally), Gone West (Mr. Prospector), Shackleford (Forestry), Clarity Sky (Kurofune), Lady Joanne (Orientate), Tappiano (Fappiano).


A influência de Ex Facto se multiplicou na América do Sul. É terceira mãe da flamante campeã Ethereum (Courtier), égua do Sr. Carlos Dos Santos, treinada por Cosminho Morgado Neto, que após brilhar aos três anos foi designada “Cavalo do Ano” no Brasil 2024/25 e se prepara para o próximo Grande Prêmio Latinoamericano como uma das favoritas. Também é terceira mãe de Nudini (Drosselmeyer), vencedor do Derby do Rio de Janeiro, último elo da Tríplice Coroa Carioca da temporada 2024/25. E não só na América do Sul a presença de Ex Facto é significativa nos pedigrees: Redifined (More Than Ready), adquirida por U$S 450.000 na Fasig-Tipton em julho de 2023, é múltipla “stakes placed” nos EUA.


Se revisarmos sua descendência como segunda mãe, aparecem campeões de dois anos no Brasil e no Uruguai: Parfum Parfait (Clackson), Cruiseliner (Wild Event), Alto Voltage (Ecclesiastic), a velocista Aspiración (Wild Event) e muitos outros ganhadores clássicos. A constante é sua capacidade não apenas de produzir precocidade, mas também cavalos com projeção aos três e quatro anos, algo fantástico. Em Obastacle, Ex Facto se conecta com Hofburg por meio de um padrão de cruzamentos complementares, onde a linha de Tapit, com seu “inbreeding” em A. P. Indy (Seattle Slew), aporta grande capacidade aeróbica, enquanto a linha de Known Fact, descendente de In Reality, adiciona a velocidade de um campeão milheiro. O resultado é Obstacle, um potro com equilíbrio perfeito entre velocidade inicial e arremate.


A estreia em Maroñas de Obastacle, nos 1.800 metros, não só lhe deu um recorde que vigorava havia quase 20 anos, como também confirma que está pronto para desafios maiores. Seu proprietário, Ricardo Felizzola, junto com a equipe de Ivo Pereira, seu filho Leandro e Pablo Duarte, planejam mirar as duas etapas restantes da Tríplice Coroa uruguaia para três anos, para depois encarar o Grande Prêmio José Pedro Ramírez (G1) de 6 de janeiro e, se responder, levá-lo aos Estados Unidos para seguir os passos de No Bien Ni Mal, outro filho de Hofburg que venceu recentemente no meeting de SPA em Saratoga, em um “allowance” na estreia norte-americana. A escala é lógica: a Tríplice Coroa uruguaia costuma forjar potros resistentes e versáteis, e o Ramírez, com seus 2.400 metros, apresenta uma bolsa bastante chamativa. Seu desempenho no Criadores Nacionales (G3) expõe que a transição é plausível; ao contrário de muitos fundistas que marcam parciais moderados, ele impôs um ritmo rápido e, ainda assim, foi capaz de arrematar seus últimos 200 metros em 12’’88 — sinal de que conserva energia. Mostra que os 200 metros a mais do Jockey Club (G3), a ser disputado no próximo 5 de outubro, não serão dificuldade para ele.

O binômio de “Toro” Rodrigues – Ivo Pereira mais uma vez se encontrou com o sucesso. / Fotografias Santiago
O binômio de “Toro” Rodrigues – Ivo Pereira mais uma vez se encontrou com o sucesso. / Fotografias Santiago

O êxito não se entende sem olhar para a equipe ao redor. O treinador Ivo Valter “Coco” Pereira foi por vários anos o líder indiscutível das estatísticas de Maroñas. Depois de um período de queda na qualidade de seus exemplares, vive um grande momento, em um ambiente muito competitivo no hipódromo, mostrando-se um dos melhores treinadores. Ivo já treinou excelentes exemplares; entre seus pupilos figura o recordista Brujo de Olleros (Wild Event), cuja marca nos 1.600 metros Obastacle quase igualou “em trânsito”. A escolha de Everton Rodrigues como jóquei, um chicote experiente em pistas pesadas e com tato fino na hora de decidir, também foi decisiva, já que soube controlar o ímpeto do potro, não se assustou quando foi tocado na partida e o deixou fluir no seu ritmo. O capataz Pablo Duarte encarregou-se do ajuste final e, segundo declarou ao término da corrida, o potro havia trabalhado muito bem em privado, mas, ainda assim, a forma como venceu o surpreendeu. O Haras Santa María de Araras, que cria mais de 100 exemplares anuais em Bagé, Rio Grande do Sul, aporta a genética e o suporte sanitário que permite à cocheira sonhar com um projeto de exportação.


Sob a ótica da genética comercial, a vitória do defensor do Duplo Ouro reforça o valor do serviço de Hofburg no mercado sul-americano. Como todo garanhão de Santa María de Araras, as coberturas não são das mais acessíveis no mercado regional, mas vale a pena pagar entre U$S 7.000 e 8.000 pelo serviço, já que a efetividade justifica o investimento.


Seu pedigree mostra o quão fértil pode ser essa combinação quando se soma uma linha materna potente como a de Ex Facto. Obastacle não só quebrou um recorde de quase duas décadas em Maroñas; inaugurou um capítulo emocionante da temporada clássica uruguaia e segue construindo a ponte entre a areia de Montevidéu e as pistas dos Estados Unidos que já construiu No Bien Ni Mal, e que tentam seguir Suablenanv T. H. (T. H. Approval), Devassa (Alcorano), Dale Flojita (Sloane Avenue) e, tendo a Breeders’ Cup como objetivo, Touch Of Destiny (Midshipman).


O triunfo de Obstacle evidencia o que ocorre quando se unem um garanhão emergente como Hofburg, uma poderosa família materna como a de Ex Facto e uma equipe de profissionais que sabe preparar cavalos. Para o futuro imediato, Obastacle terá de confirmar que seu recorde não foi um clarão isolado, a Tríplice Coroa uruguaia e o Ramírez serão seus exames de resistência. Mas, à luz do que demonstrou, frações vertiginosas, um forte arremate e uma constância incomum em um cavalo que corria apenas pela segunda vez — é razoável pensar que o potro do Duplo Ouro é algo mais do que um fenômeno passageiro. Se for administrado com paciência, pode se converter na nova “máquina de correr” que o Uruguai espera e, por extensão, em mais um embaixador da criação brasileira no Norte.

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