top of page

As primeiras etapas das Tríplice Coroas funcionaram como um termômetro para medir a saúde das hípicas sul-americanas

  • Foto do escritor: Lineage Bloodstock
    Lineage Bloodstock
  • 11 de set.
  • 16 min de leitura

O início simultâneo das Tríplices Coroas em São Paulo, Buenos Aires e Montevidéu ofereceu um retrato nítido do turfe sul-americano, em três hipódromos, duas pistas, seis provas e os produtos mais talentosos de cada meio. No sábado, 6 de setembro, Palermo e Cidade Jardim abriram suas primeiras joias, enquanto no domingo, 7, foi a vez de Maroñas. O sucesso na pista raramente é uma anedota isolada; é sempre a consequência visível de uma sequência de decisões que se materializam na gestão cotidiana de criação, doma, pré-treinamento e treinamento, que julgam o relógio, a foto no pódio e algumas taças de metal. Na Lineage Bloodstock, damos o foco ao protagonista: o cavalo. Contudo, aqui revisaremos, muito por alto, outros fatores que também afetam diretamente a qualidade dos equinos. São eles as infraestruturas, equipes, criadores e como o fator humano deve atuar para alcançar o resultado que todos desejamos: ganhar a Polla de Potrillos, de Potrancas, o Ipiranga, o Barão de Piracicaba, ou qualquer Grupo 1 — a glória máxima para todo proprietário, criador ou profissional.


Começaremos pela Argentina, Buenos Aires, onde teve lugar a Polla de Potrillos (G1), uma das provas mais tradicionais do turfe latino-americano, que deixou uma chegada definidora de gerações, pois, depois de longos anos na atividade, o proprietário e criador. Gardel Pass (Distinctiv Passion) encontrou um bravíssimo Drive Joy (Fortify), que ainda correu condicionado por uma lesão detectada após a carreira. Os dois sustentaram um mano a mano incessante desde os quatrocentos metros finais até o disco. A diferença foi de um pescoço; o ponteiro havia levado os primeiros oitocentos metros em 46”72, um trem vivo para a milha de Palermo, e o vencedor completou a milha em 1’34”46. Essa combinação de parcial inicial e registro final demonstra que foi uma prova de caráter. Quando o primeiro parcial é tão rápido, o trecho decisivo já não se ganha com velocidade bruta, mas com a capacidade de transformá-la em extensão e de sustentar a ação quando a exigência mental e fisiológica começa a dobrar quase todos. O mérito de Gardel Pass é sobreviver a esse esforço específico da milha, uma distância que castiga tanto os sprinters que não “esticam” quanto os fundistas para os quais o ritmo fica rápido demais. O mérito de Drive Joy é redobrar na raça mesmo limitado, contextualizando o nível competitivo da geração.


Para Gardel Pass, o triunfo abre dois caminhos esportivos e um simbólico. O simbólico é imediato, pois entrega à sua equipe, a dupla Wálter Suárez e María Fernanda Álvarez, sua primeira Polla de Potrillos, um selo que robustece a confiança e o projeto desse binômio de treinadores, radicado no Hipódromo de Palermo, Buenos Aires, com aproximadamente 60 cavalos na cidade atualmente. Os dois caminhos esportivos, por sua vez, supõem uma decisão estratégica com custos e benefícios, prós e contras, distintos. A alternativa de ir direto ao Jockey Club, 2.000 metros no gramado de San Isidro, exige transferir para outra pista e outra distância aquela habilidade de sustentar o esforço que mostrou na areia da milha. A alternativa de consolidar a hegemonia na milha oferece outra recompensa: capitalizar uma superioridade já comprovada e transformar um rendimento alto em sequência, com valor esportivo e comercial para um potro em formação. A escolha adequada depende do tipo, da sua maneira de ganhar e do plano com que a equipe queira amadurecê-lo. A Argentina continua sendo uma vitrine para o mundo; de cada canto, os olhos já se voltam para este filho de Distinctiv Passion (With Distinction).

Gardel Pass (Distinctiv Passion) definindo ao lado de Drive Joy (Fortify).
Gardel Pass (Distinctiv Passion) definindo ao lado de Drive Joy (Fortify).

O caso de Gardel Pass torna-se especialmente interessante quando se desloca o olhar do disco para o haras. Ele é filho de Distinctiv Passion (With Distinction), um garanhão que chegou ao país em 2018. Sua história não é a do fenômeno importado com livros enormes, mas a de um value sire trabalhado com lógica boutique. Recebeu apoio quase exclusivo das éguas próprias do Haras El Alfalfar, com livros reduzidos, continuidade e critério. Em cinco gerações contabilizam-se 87 nascidos, 59 corredores e 41 vencedores, o que representa 69,5% de vitórias sobre corredores. São 8 vencedores clássicos, 6 de grupo, e este é o primeiro G1 de sua progênie. Não é um golpe de sorte, mas a consolidação de um modelo em que as mães internas sustentam o projeto do garanhão até que apareça o indivíduo que coloque o carimbo mais alto. A sequência de nascimentos por temporada descreve um crescimento ordenado que acompanha a confiança com dados: 2018 com 13 nascidos, 2019 com 17, 2020 com 26, 2021 com 31, 2022 com 37, 2023 com 45 e 2024 com 9. Não há elásticos inflados por modas, mas uma curva construída com paciência.


Sua mãe, La Cumparsita Key (Key Deputy), sustenta o outro pilar do caso. Foi vencedora de uma corrida e terceira no Carlos Casares (G3), mas como matriz apresenta uma eficiência difícil de igualar: cinco produtos em idade de correr, cinco vencedores, dois black-type e um deles G1. Um ano antes do nascimento de Gardel Pass produziu Papusa Pass (Distinctiv Passion), irmã inteira do vencedor e ganhadora de G3 e G2 nos 1000 e 1200 de Palermo. A linha materna que possui é toda do haras do Sr. Alfredo Camogli, e volta a mostrar alta produtividade em velocidade com elasticidade suficiente para estender até a milha. A família {4-p}, assim como Todo Tango Key (Key Deputy), Villero Cat (Easing Along), Compasivo Cat (Easing Along), Llorón Cat (Easing Along) e a talentosíssima Tristeza Cat (Easing Along).


Na Polla de Potrancas (G1), Palermo apresentou um questionamento. A invicta Moon Frank (Gidu) deveria validar sua condição frente à referência anterior, Charm (Strategos), vencedora das Estrellas Juveniles Fillies G1 no mesmo hipódromo e distância. A resposta foi positiva e categórica: Moon Frank manteve sua invencibilidade com um triunfo de um corpo, o tipo de vitória que não desmerece sua escolta, mas ordena a hierarquia da divisão no dia em que o calendário o exige. Esportivamente, é o tipo de corrida que demonstra que a invencibilidade não é um número frágil, mas uma sequência de decisões táticas corretas sob pressão.

Moon Frank (Gidu) dando o primeiro G1 a seu pai como Freshman Sire.
Moon Frank (Gidu) dando o primeiro G1 a seu pai como Freshman Sire.

A vencedora, preparada pelo treinador com experiência internacional Diego Peña, acrescentou um capítulo fundamental para a reprodução: deu ao freshman sire Gidu (Frankel) seu primeiro vencedor de G1 como garanhão. O dado é duplo, porque uma primeira joia com filha de um freshman sire não apenas acende uma estatística, mas também valida a escolha do haras que confiou e retroalimenta o valor da produção por vir. A geração 2022 de Gidu soma 52 nascidos e, para a próxima temporada, haverá apenas 16 dois-anos, todos de propriedade do Haras Gran Muñeca. A eficácia do Haras Gran Muñeca, anos atrás com Full Mast (Mizzen Mast), agora com Gidu (Frankel), e suas pastagens que esperam ver os filhos de Made You Look (More Than Ready), demonstra o trabalho da operação administrada por Hernán Gasibe com a colaboração do Dr. Juan Garat.

Pódio para Moon Frank (Gidu). Ali, da esquerda para a direita: Dr. Juan P. Garat, Sr. Hernán Gasibe, Moon Frank, equipe de trabalho e Diego Peña junto a seu familiar.
Pódio para Moon Frank (Gidu). Ali, da esquerda para a direita: Dr. Juan P. Garat, Sr. Hernán Gasibe, Moon Frank, equipe de trabalho e Diego Peña junto a seu familiar.

Moon Sale (Not For Sale), a mãe da potranca, é múltipla vencedora clássica na Argentina. Desde 2016 produziu cinco filhos em idade de correr, todos estrearam, quatro venceram e Moon Frank é a primeira de G1. A família, originária do Haras Las Ortigas de Ignacio Correas II e III e nas últimas três mães pertencente ao recentemente desaparecido Haras San Lorenzo de Areco, aporta uma camada qualitativa valiosa para quem pensa na potranca como futura matriz. Não se trata apenas de uma campanha individual, mas de uma linha com fertilidade, sanidade e capacidade para transformar bom fenótipo em rendimento. A consequência prática é simples: a potranca não apenas se instala como líder da geração, mas também aumenta seu valor residual para sua segunda carreira de matriz pela dupla via de resultados e consistência em sua linha materna.


Em São Paulo, Cidade Jardim distribuiu suas joias com um duplo do Haras Rio Iguassú, demonstrando sua precisão nos grandes prêmios. No Ipiranga (G1) para potros, Star Do Iguassú (Outstrip) respondeu ao favoritismo com atuação autoritária sob a condução de João Moreira. Vinha de chegar segundo de Oderich (Drosselmeyer) na Taça de Prata (G1), e nesta ocasião a ausência do próprio Oderich e de Tá Legal (Can The Man) simplificou uma equação que, de qualquer modo, exigia resolver uma milha desafiadora. O melhor potro do Paraná percorreu os 1600 metros do gramado paulista em 1’33”74, número que mostra o mais importante de seu desempenho: o potro soube ordenar a corrida, assumir a responsabilidade de favorito e demonstrar sua qualidade ao vencer facilmente.

Star Do Iguassú (Outstrip) vencendo com facilidade por 1 1/4 corpo.
Star Do Iguassú (Outstrip) vencendo com facilidade por 1 1/4 corpo.

Star Do Iguassú é filho de Energia Halo (Gloria de Campeao), uma égua criada pelo Haras Estrella Energia. De suas 7 apresentações em pista, venceu 4, inclusive uma de G2, e foi segunda em outro G2, nunca ficando fora do marcador em sua campanha. Energia Halo (Gloria de Campeao) já produziu Pearl Do Iguassú (Forestry), uma talentosa vencedora de 5 corridas, uma delas Listada, e 2 colocações clássicas, em G2 e G1. Seu terceiro produto foi Quico Do Iguassú (Camelot Kitten), que venceu 2 de suas 3 corridas disputadas. Seu 4º e último produto registrado é este potro de grande qualidade. Seria interessante vê-lo no Jockey Club Paulista, segunda joia da tríplice coroa de São Paulo, mas excepcionalmente será disputada em 18 de outubro no Hipódromo da Gávea, Rio de Janeiro, já que nesse sábado acontecerá a festa do G. P. Latinoamericano (G1), a prova melhor cotada do turfe sul-americano.


Geneticamente, Star Do Iguassú poderia se sair muito bem na distância. Não apenas tem Outstrip (Exceed And Excel) como pai, mas sua linha materna também faz pensar que poderá manter seu domínio na distância. O vencedor do Ipiranga (G1) apresenta um linebreeding de Northern Dancer (Nearctic) em 5x5x5x5. Sua 2ª mãe é Super Electric (Choctaw Ridge), vencedora de 3 corridas e com 4 colocações clássicas em Listados, G3 e G2. Ela não só produziu a já mencionada Energia Halo, mas também a trotamundos Energia Fox (Agnes Gold), que correu na Gávea, foi 2ª no G. P. Latinoamericano de 2013 no Hipódromo do Chile, em Cidade Jardim, sendo depois exportada para a Europa e correndo em Lingfield, Meydan, Newmarket, Wolverhampton e Southwell. Atuou em 3 circuitos diferentes: sul-americano, europeu e do Oriente Médio.


Essa linha materna, da família {9-h}, foi importada pelo Haras Calunga, com a chegada de Sassy Miss (Sassafras) ao Brasil na década de 80. Ela produziu 2 vencedores clássicos em sua produção, e suas filhas geraram vários ganhadores clássicos, entre os quais se destacam Sushi-Bar (Jato Dagua), velocista vencedor clássico na temporada 2003/04, e os Listed Winners Super-Forte (Choctaw Ridge) e Super Hina (Choctaw Ridge).


A estrutura que o sustenta acrescenta clareza a este duplo da família Pelanda e ao domínio que têm exercido no turfe brasileiro nas últimas duas temporadas. Este produto, criado e de propriedade do Haras Rio Iguassú, é preparado por Antonio Oldoni e foi montado por João Moreira. Sua equipe descreve um programa integrado em que a criação própria prioriza um tipo de produto, produzindo ano após ano cavalos de muito talento e capacidade corredora. Já a operação esportiva, com toda sua equipe, consegue extrair o máximo de seus animais. Contando com uma das melhores montas do mundo, “The Magic Man” João Moreira, o que reduz significativamente a margem de erro com a qual correm os produtos da operação paranaense. Quando um animal criado em casa vence o primeiro G1 da série, o resultado deixa de ser um ponto alto fortuito e passa a ser indício de que o programa funciona como um todo. E quando, à tarde, se repete com outra égua da casa, esse indício se transforma em tendência.

Summer Do Iguassú (Camelot Kitten) por fora, Veil (Can The Man) resistia por dentro.
Summer Do Iguassú (Camelot Kitten) por fora, Veil (Can The Man) resistia por dentro.

O Barão de Piracicaba (G1) foi o ponto mais alto da jornada paulista e não apenas pelo veredito: as potrancas pararam o relógio em 1’32”89, um tempo melhor que o dos machos por 85 centésimos. A carreira teve Veil (Can The Man), criada no Haras Santa Julieta em Aceguá para Dante Luiz Franceschi, hoje titular do Haras Belmont, como ponteira. Marcou o ritmo desde a largada e foi dominada por Summer Do Iguassú (Camelot Kitten) nos metros finais, em um desfecho que colocou frente a frente a coragem da ponteira com a decisão da potranca do Rio Iguassú que vinha atropelando com força. Mais além do bom olho nas rédeas, a comparação de tempos com o Ipiranga (G1) fala por si só. A geração feminina no Brasil está muito forte e corre rápido. Para a operação da família Pelanda, proprietária do Rio Iguassú, a vitória tem um matiz adicional. Sua invicta Special Do Iguassú (Forestry) não correu por não estar a 100%, mas o haras escolheu expor outra carta de alto nível, e a jogada deu certo.


A mãe de Summer Do Iguassú é uma filha de Wild Event (Wild Again) e ela é seu 4º produto, o primeiro vencedor clássico que produz. Todos os filhos de Camelot Kitten em mães Wild Event possuem uma repetição na mãe North Of Eden (Northfields) em 3x4, mãe do desaparecido Wild Event e 3ª mãe do garanhão do Haras Rio Iguassú, Paraná. Este nick de pai-avô materno também deixa um inbreeding de Northern Dancer (Nearctic) em 5x5.


Em Montevidéu, Maroñas repetiu o desenho de São Paulo, com parciais intensos, ponteiras generosas e definições de caráter, com a marca de um projeto de criação que, à força de método e acumulação, tornou-se dominante no fim de semana. A Polla de Potrancas (G3) foi resolvida a favor de Tantan Royal (Midshipman) frente à favorita Grandinata (Trinniberg), que havia percorrido os 800 metros principais em 45”49 e pagou o desgaste nos metros finais. A potranca, sob o comando da equipe de Antonio Luiz Cintra, administrou o esforço com precisão sendo conduzida por Héctor F. Lazo, um dos jóqueis do Haras Phillipson. Viajando em posição expectante, no segundo lote, a potranca atropelou muito bem na reta e agora é a líder da geração. Em um mês será disputado o G. P. Seleção (G3) sobre 2000 metros, e ela poderá ser a candidata.

Tantan Royal (Midshipman) passando por fora.
Tantan Royal (Midshipman) passando por fora.

O reverso genético explica a previsibilidade do resultado. Tantan Royal (Midshipman) é filha de Leca Princess (T. H. Approval), uma égua que não venceu em seis saídas, mas que como matriz é perfeita. Seu primeiro produto, Sandrin Royal (Will Take Charge), é ganhadora de três corridas: um maiden, um handicap especial e um stakes de G3. Sua segunda cria é a própria Tantan Royal, também ganhadora de G3. Projetando o futuro, Leca Princess tem um potro da geração 2023, fruto de outro projeto de shuttle realizado pelo Haras Phillipson, Creative Cause (Giant’s Causeway). O potro se chama Timbrothers. No entanto, esta matriz não pertence mais ao estabelecimento da família Steinbruch. Encontra-se agora no Haras Don Juca, em Caraguatá, e Leca Princess é atualmente propriedade de Jorge e Santiago Jacobo, titular do Stud El Caverna e seu filho.


No pedigree desta potranca aparece a repetição de Caro, duplicado 4x4 com localizações 18 e 24 em um esquema de cinco gerações. Não é coincidência, mas sim uma busca deliberada de Benjamín Steinbruch, um apaixonado por Caro. A segunda mãe, Risk Adjusted (Ski Champ), foi ganhadora em Cidade Jardim e participou de provas listadas e de grupo, aportando dureza e velocidade. Se acrescentarmos que Phillipson trouxe Midshipman (Unbridled’s Song) em shuttle em 2021, propriedade da Darley, a figura se fecha em um triângulo simples: escolha de garanhão, definição de matriz genética com a duplicação de chefes de raça, grande investimento na criação, e tudo isso demonstrado na pista.


A Polla de Potrillos (G3) repetiu a lógica de eficiência contra brilho efêmero, e pelo terceiro ano consecutivo o Haras Phillipson vence a primeira etapa da tríplice coroa uruguaia. Rock Walk (T. H. Approval) em 2023, o tríplice coroado Suablenanav TH (T. H. Approval) em 2024, e agora Tadow Star (Midshipman), com a monta de Luis Alberto Cáceres e o preparo do brasileiro Raimundo Soares, treinador exclusivo da operação. Este potro vinha de escoltar repetidamente seu companheiro fora de série Touch Of Destiny (Midshipman), hoje na Califórnia com a equipe de Michael McCarthy, preparando-se para correr no dia 1º de novembro a Breeders’ Cup Dirt Mile em Del Mar.


Desta vez converteu regularidade em título e tomou posse da primeira joia de forma contundente, vencendo por 3 corpos. A mãe, Jada (T. H. Approval), reproduz o molde. A combinação Midshipman sobre T. H. Approval confirma a duplicação de Caro 4x4, e sua mãe soma uma terceira via por Punk (Ringaro), neto paterno do chefe de raça irlandês, resultando em Caro 4x4x5 com localizações 18, 24 e 56. A segunda mãe, Redundancia (Punk), venceu duas em Cidade Jardim. A terceira mãe, Jalea (Two Harbors), é uma argentina criada pelo Haras La Doma, e integra o grupo de matrizes fundadoras do Phillipson sob o comando de Benjamín. Quando se combinam estes três elementos, repetição seletiva de um chefe de raça, sólidas linhas maternas já provadas e o grande investimento em um garanhão shuttle que transmite, aumenta a probabilidade de obter lotes homogêneos com nível clássico.


Agora a operação da família Steinbruch encontra-se em seu melhor momento, com seus criados: um tríplice coroado treinando em Kentucky, um potro se aprontando para enfrentar os melhores milheiros do mundo na Breeders’ Cup e a ilusão de conquistar, mais uma vez, a tríplice coroa. Algo nunca visto no turfe uruguaio é ver dois tríplices coroados consecutivos, muito menos criados no mesmo campo.

Benjamín Steinbruch recebendo o troféu da Polla de Potrancas (G3).
Benjamín Steinbruch recebendo o troféu da Polla de Potrancas (G3).

O desempenho do Phillipson não acontece no vazio, não é sorte. Alguns anos após sua chegada ao Uruguai, a coudelaria profissionalizou a estrutura de pessoal e processos, reformulou suas práticas na preparação para o treinamento. Além disso, nos últimos meses acrescentou um investimento específico que impacta diretamente na qualidade com que seus produtos chegam ao treinamento: uma pista de areia para potros em doma e pretraining. Essa decisão operacional padroniza estímulos, reduz o acaso do processo inicial e, sobretudo, harmoniza a linguagem entre quem cria e quem treina. Recordamos a geração 2015 de seu haras, quando a imensa maioria eram produtos filhos de Fusaichi Pegasus (Mr. Prospector), já que havia sido feito o grande investimento de levá-lo por um ano em shuttle. Todos os animais ganharam fama de serem problemáticos e indesejáveis, o que fez com que não pudessem projetar-se corretamente nas pistas. No meio uruguaio, longe de estar expectante e gerar um receio diante dos resultados, deveria operar como uma tensão competitiva saudável e melhorar o seu. Neste esporte ninguém é obrigado a copiar um método, mas todos os que quiserem disputar grandes clássicos se veem forçados a revisar seus próprios processos.


Vários eixos comuns foram observados nas diferentes hípicas da América Latina. A milha, tanto em Palermo como em Cidade Jardim e Maroñas, continua sendo o laboratório supremo do caráter atlético, onde se põe à prova a velocidade em uma distância de quase meio-fundo. Os 46”72 para os oitocentos na Polla portenha, o 1’32”89 das potrancas e a velocidade de Veil em São Paulo, os 45”49 iniciais de Grandinata em Montevidéu, são três números distintos que contam a mesma história: o tiro castiga quem não consegue transformar velocidade em extensão durante todo o percurso da corrida.


Os 6 ganhadores provêm de 4 diferentes proprietários, que também são os criadores de seus vencedores. É o formato de criação o mais efetivo para uma coudelaria? O proprietário deve adquirir um campo, instalações e criar para ganhar um G1? As estruturas integradas, as de criação, treinamento e monta como um todo, são as que melhor convertem planos em fotos de triunfo. Rio Iguassú no Paraná, Brasil, e Phillipson em Lavalleja, Uruguai, aplicam programas coerentes que, com estilos distintos, compartilham a mesma lógica metodológica. A reserva de seus melhores produtos é inevitável. O Haras Gran Muñeca produziu 3 ganhadores de G1 na Argentina: Tan Gritona (Full Mast), Full Keid (Full Mast) e agora Moon Frank (Gidu) venceram seus G1 com as cores turquesa e preto do Stud Gran Muñeca; e Full Serrano (Full Mast) também corria para a coudelaria de seu criador antes de ser vendido para os Estados Unidos, através da negociação do argentino Luis Bouza, para ganhar a última edição da Breeders’ Cup Dirt Mile em Del Mar. Por outro lado, Rio Iguassú reserva a imensa maioria de sua produção anual, enquanto o Phillipson não vende nenhum de seus produtos, tradição e formato que caracterizam seu haras desde que foi fundado no Brasil, manteve enquanto operou em São Paulo, Argentina, e continua agora radicado no Uruguai. Como o mercado norte-americano justifica, alguns de seus produtos criados em Brownwood Farm, em Kentucky ou Nova Iorque, vão a leilão, mas são minoria.

Instalações do Haras Rio Iguassú, Paraná, Brasil.
Instalações do Haras Rio Iguassú, Paraná, Brasil.

No entanto, isso não está errado. São as regras do jogo, e os criadores são os donos do mais rico do turfe: as linhas maternas. As quais não são pano de fundo, mas fonte de energia que sustenta projetos: Moon Sale no Gran Muñeca, Leca Princess no Phillipson e Energia Halo no Rio Iguassú são três éguas com perfis diversos que coincidem no que realmente importa: multiplicam. Também convivem modelos de garanhões que funcionam quando inseridos com sensatez em seu contexto. O garanhão boutique com livros curtos, Distinctiv Passion, converte poucos recursos em alta eficiência. O freshman que conquista seu primeiro G1, Gidu, com oferta limitada, sustenta expectativa e valor. O shuttle alinhado com uma matriz genética definida, Midshipman com Caro 4×4 e 4×4×5, gera lotes homogêneos e resultados repetidos. A economia do pedigree explica tão bem quanto a biomecânica por que se vencem algumas corridas. O El Alfalfar investe em um garanhão próprio e o sustenta com matrizes internas com um pool genético de velocidade pura, mas que também alcançam a distância mediante boa criação. O Gran Muñeca investiu muito nos últimos anos, agora capitaliza um primeiro G1 para seu garanhão e representado pela melhor potranca da geração. O Phillipson traz garanhões em shuttle, combinando-os com uma ideia de cruzamento que considera central e, além disso, investe em infraestrutura de pretraining. Isso o torna um estabelecimento cada vez melhor, melhorando a genética e a forma de criar no Uruguai.


A Polla de Potrillos de Palermo reafirma que, quando o parcial de sprinter entra em diálogo com o fechamento de milheiro, vence quem contém o ritmo. Se Gardel Pass e sua equipe buscam o Jockey Club, a transição ao gramado e o manejo do espaço entre corridas serão determinantes. A Polla de Potrancas portenha combina freshman validado com uma matriz multiplicadora. Moon Frank resolveu diante da campeã anterior, acendeu Gidu com seu primeiro G1 e deu a Moon Sale uma linha de produção que pesa. Em São Paulo, Star Do Iguassú fez o que deve fazer um favorito dentro de uma estrutura coerente; a lição é reforçar a fórmula e organizar o calendário com foco em mil e dois mil metros conforme peça cada físico. O Barão de Piracicaba mostra que as fêmeas correm mais rápido: 1’32”89 contra 1’33”74 dos machos e uma ponteira, Veil, de grande valentia. A geração feminina está forte e o modelo de produto do Rio Iguassú é o adequado para vencer as corridas mais importantes do Brasil. Enquanto em Maroñas, Tantan Royal é um caso escolar e, com potrancas de patas leves, o espaçamento da campanha conserva a vantagem. A Polla de Potrillos uruguaia narra a passagem de escolta crônico a vencedor de Polla. Tadow Star transformou o linebreeding em Caro em sucesso. A consequência é replicar sistematicamente quando o padrão materno o permite e modular o passo a dois mil metros conforme o indivíduo exigir.


Falando de investimento, convém aterrissar a palavra para que não soe vazia. No Haras El Alfalfar, investir foi trazer um garanhão, sustentá-lo com livros curtos e matrizes próprias e esperar que a probabilidade fizesse seu trabalho sem ansiedades destrutivas. No Gran Muñeca, apostar em um freshman, controlar a oferta e capitalizar quando surgiu o primeiro G1. No Rio Iguassú, construir uma lógica interna de seleção de matrizes e garanhões para Cidade Jardim e alinhar a equipe para executar essa lógica com precisão. No Phillipson, importar um garanhão em shuttle, definir uma matriz genética com Caro replicado, erguer uma pista de areia e profissionalizar processos. Nenhum desses movimentos garante automaticamente um G1, mas o que garantem é aumentar a probabilidade de que, quando surge um bom potro ou uma boa potranca, a estrutura ao redor esteja preparada para alcançar, que aí se encontra o ponto onde os programas se separam dos golpes de sorte.


A busca por uma receita fechada deixou, neste fim de semana, uma resposta sincera: NÃO há receita, há método. Um método que começa com uma matriz que multiplica, continua com um garanhão que potencializa o que essa égua já sabe dar, treina-se com uma equipe que acredita no que faz e se confirma com um relógio que, quando diz sim, chega com a naturalidade do que foi bem pensado desde a origem. Quando esse círculo se fecha, acontecem coisas como essas seis corridas. Mesmo em economias exigentes como as da Argentina e do Brasil, onde os prêmios não estão em seu melhor momento, lembra que o caminho continua sendo o mesmo de sempre: genética usada com cabeça, criação rigorosa e a coragem de investir quando a tentação diz esperar. Em Buenos Aires, São Paulo e Montevidéu ficou demonstrado que, se as apostas se fazem na ordem correta, o resultado não demora a aparecer.

Comentários


Últimas notíciasÚltimas notícias

As notícias diretamente para o seu e-mail.

Subscreva a nossa newsletter semanal.

Thanks for subscribing!

  • Instagram
  • X

© 2025 por Lineage Bloodstock, Ltd.

bottom of page